Wednesday, February 28, 2007
PADRE CONGO RECUSA AMNISTIA
O padre Jorge Casimiro Congo reagiu contra a amnistia que lhe foi concedida pelo Tribunal da Comarca de Cabinda, na sequência do crime de agressão de que foi vítima o bispo de Saurimo e então administrador apostólico da Diocese de Cabinda, Dom Eugênio Dal Corso, quando este se dirigia para uma eucaristia matinal, na Paróquia de Imaculada Conceição, onde o sacerdote era pároco.
O sacerdote a quem o tribunal provincial constituiu arguiu no processo, para supostamente responder pelo crime contra o bispo Dal Corso disse que a história foi muito mal contada e gostaria chegar até as últimas consequências para esclarecer a verdade mesmo que para tal fosse necessário cumprir a prisão.
«Não esperava beneficiar de uma Lei de Amnistia porque eu esperei sempre ser julgado. Estive sempre e estou sempre disponível a ir até e às últimas consequências. Digo-lhe pois a verdade: uma coisa aprendi nesta vida que já fiz o que tinha que fazer como dizia Gandhi. Não tenho mais nada a ganhar e nada mais a perder, porque eu acredito que esta história de Cabinda não sou eu o pivô disso, não sou eu que vou acabar com a contestação popular, isto vai continuar como foi antes de mim e depois de mim e estou disponível a ir aonde for e não tenho o mínimo receio de pegar a minha maleta e ir à prisão».
Em relação à crise que a Igreja de Cabinda atravessa, como consequência da nomeação de Dom Filomeno Vieira Dias para bispo da Diocese e que levou à divisão da Diocese em duas alas, Casimiro Congo diz viver com tristeza este momento, lamentando, contudo, o facto de a igreja revelar-se até agora incapaz de resolver o problema.
Para o padre Congo, não será para breve que a igreja se livrará da situação enquanto perdurar a suspensão de alguns sacerdotes e outros tantos como ele próprio e continuarem fora dos altares.
«É triste quando as pessoas não são capazes de resolverem as questões e põem tudo nas mãos de algumas pessoas, mas digo a verdade que vai ser muito difícil desfazerem-se de mim por uma questão muito simples: este povo me assume como sou, com os meus defeitos, com as minhas virtudes, com as minhas grandes qualidades e com a minha inteligência. No entanto, não é fácil o povo ver-me fora dos altares, fora dos púlpitos, de modos que vai ser muito difícil a igreja se desfazer-se de mim».
Quanto ao processo de paz assinado em Agosto passado entre o Governo e o Fórum Cabindês para o Diálogo liderado por António Bento Bembe, o padre Jorge Casimiro Congo, um dos signatários dos acordos de constituição daquele órgão representativo dos cabindas, considera o actual momento de paz como sendo mais um ciclo de fracasso que a história de Cabinda conheceu.
Para o sacerdote, esta espécie de paz rubricada por Bento Bembe cela mais um ciclo que vai gerar uma nova geração de políticos. O processo em si, segundo o sacerdote, não resolve definitivamente o problema de Cabinda.
«Duas coisas que reputo importantes: a primeira coisa é pena que seja amnistiado com pessoas que mataram, com pessoas que mataram crianças de tres meses. É pena uma amnistia que não tem limites, que não tem conteúdo jurídico e político. A segunda coisa que eu acho verdadeiramente de estrema importância neste momento de silêncio que passei e que vou reflectindo sobre a minha vida e sobre a vida deste povo, meu povo e povo que sou é que Cabinda tem vivido sempre ciclos. Já passou o ciclo de Alexandre Tati em que os portugueses pensaram com Alexandre Tati, vindo com militares, que o problema de Cabinda tinha acabado. Agora vêm outros ciclos. Eu estive a ler agora uma carta, creio que seja dos anos 1999 e 2000, nos tempos do comandante Sita, em que recebi uma carta terrível acusando-me que eu estava contra os compatriotas que vinham das matas e que eu podia ser responsabilizado disto. Ora, mesmo a vinda desses compatriotas que vieram das matas o problema de Cabinda não acabou.
Logo, estou a espera que este ciclo também passe, que essa espécie de paz que as pessoas dizem, no entanto, continuamos a ser perseguidos, continuamos a viver uma perseguição que nunca vivemos até agora. Vai surgir um novo ciclo e esse já começou com o surgimento de novas lideranças como a de Agostinho Chicaia e Martinho Nombo, pessoas que até agora eram desconhecidas e que São neste momento referência para o povo de Cabinda».
O sacerdote diz, no entanto, celebrar com alegria o nascimento de um novo ciclo e espera ver o ciclo de António Bento Bembe terminar do mesmo jeito que acabou o ciclo de Alexandre Tati.
«Ora, assim como errou o português, porque você é muito jovem, nós tivemos o Calabuba, um dos incrementos sociais que mais impacto teve. No entanto, foi o momento de maior contestação política de Cabinda».
Para o padre Casimiro Congo esta situação vai continuar porque a questão de Cabinda
É muito profunda, é de alma, passam gerações e o problema vem ao de cima, viram gerações e o problema sobe e aconselha o Governo a reconhecer o povo de Cabinda primeiro como povo, daí é que se vão discutir as outras questões.(
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2 comments:
Forca e luta na libertacao do nosso grande Cabinda que esta sendo explorando pelo...
Meu caro irmao Sacerdote de Cristo.
A sua luta religiosa pela justica social do Povo Sofredor de Cabinda e uma luta teologica e Crista ao mesmo tempo. Acredito eu, que Cristo faria a mesma reflexao que estas a fazer neste anos em Cabinda. O Evangelho e para libertar o ser humano de toda a especie de problemas, tais como sociais, religiosas, politicas, etc.
Continua avante ate ao Calvario. Nao deixe que ninguem interfere no seu chamado de defender os sem voices, or marginalizados, sofredores etc. Por minha parte conta com a minha colaboracao apesar de estarmos longe de si. Espiritualmente estamos unidos nesta causa justa de defender o Povo Cabindiano e canbidiana.
E Crista sim, de estar no lado dos pobres injusticados. Diga-lhes sem medo.
+ Bispo Dom Filipe Cupertino Ramos Teixeira, OFSJC
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